Tenho uma vizinha que cultiva flores em um pedacinho de terra,
seu pequeno jardim. Octogenária e muito querida, possui o dom de tocar as
plantas com especial carinho; há entre ela e suas flores, a alquimia do amor e da delicadeza, desconfio
até que têm lá suas conversas, pois não há rosas e dálias mais lindas e faceiras
do que as suas. Dálias de tom púrpura e aveludadas se abrem para o céu em
noites de lua e se tornam quase azuladas, nuances da flor que iluminam e prateiam
os sonhos quando se encontra com a lua.
Espio, da calçada, suas rosas mescladas de
amarelo e vermelho e outras em tons de fúcsia e magenta. Ouço do lado de cá do muro o murmúrio da
brisa que as toca e aprendi que a beleza precisa do silêncio; é no intervalo e
na pausa que a vida respira e entoa o cântico dos anjos. Doce ternura, os anjos visitam
nossa rua, nela existe uma linda senhora que sabe a linguagem das flores.
Um escritor português, da cidade do Porto, ilumina um
jacarandá-roxo de sua rua com a poesia e a agudeza de seu olhar. Li em seu Blog
- http://peregrino-bg.blogspot.com.br/ a deliciosa aventura da florescência
do jacarandá que se inicia em junho. Com sua prosa poética, Bernardino
Guimarães nos guia pelas ruas de sua bela cidade: “Minha rua, como em algumas
outras ruas do Porto, floresceu um jacarandá. Explosão de cor, festa das cores.
Azul e violeta, roxo. As flores são pequenos sinos de azul e aparecem
tardiamente, entrando brilhantes neste belo mês de Junho, quando bate mais
forte o coração da cidade.
As variações de luz, a intensidade maior ou menor dos raios solares, a chuva leve que amiúde cai, tudo isso altera a coloração do jacarandá, como se quisesse exibir não apenas esplendor, mas versatilidade. E o tempo, sempre o tempo, vai diminuindo a frescura e a profusão das flores, até que desaparecem, como se um meteorito lilás e veloz ali tivesse passado.” – Bernardino Guimarães.
O escritor e psicanalista Rubem Alves também adora escrever sobre florescências. Sua crônica Sacramento tornou-se um hino de amor ao rosmaninho de flores perfumadas do seu jardim – penso que há razões secretas a esse feitiço da natureza, todos que passam numa rua onde haja florescências não sai dali o mesmo. Rubem Alves e seu rosmaninho: “Gosto de me deitar na rede, perto dele, quando as noites são frescas e há aquela brisa... Às vezes descubro que estou conversando com ele e já cheguei mesmo a agradar as suas folhas, como se ele sentisse. Nunca se sabe ao certo... ”
As variações de luz, a intensidade maior ou menor dos raios solares, a chuva leve que amiúde cai, tudo isso altera a coloração do jacarandá, como se quisesse exibir não apenas esplendor, mas versatilidade. E o tempo, sempre o tempo, vai diminuindo a frescura e a profusão das flores, até que desaparecem, como se um meteorito lilás e veloz ali tivesse passado.” – Bernardino Guimarães.
O escritor e psicanalista Rubem Alves também adora escrever sobre florescências. Sua crônica Sacramento tornou-se um hino de amor ao rosmaninho de flores perfumadas do seu jardim – penso que há razões secretas a esse feitiço da natureza, todos que passam numa rua onde haja florescências não sai dali o mesmo. Rubem Alves e seu rosmaninho: “Gosto de me deitar na rede, perto dele, quando as noites são frescas e há aquela brisa... Às vezes descubro que estou conversando com ele e já cheguei mesmo a agradar as suas folhas, como se ele sentisse. Nunca se sabe ao certo... ”
É, nunca se sabe, mas parece que as flores e as plantas fazem
intermediações entre nós e o Sublime e que através dos homens a mente divina
experimenta toda a beleza da Criação. Por isso, os poetas, os artistas e os que
cultivam e lidam com flores trazem seu perfume nas mãos como forma de gratidão.
Sei lá se é bem assim, mas gosto do perfume que ficou da
magnólia da rua da minha infância. Suas folhas brilhantes e suas belas flores
aromatizaram para sempre as noites de minha alma. Quando fico triste, quase
sempre fico, busco o perfume inigualável das flores, a respiração da vida nas pausas
e intervalos, o silêncio que ecoa a língua dos anjos e o frescor da brisa que
sopra leve na janela do meu quarto. A tristeza é boa amiga, ela nos dá as mãos, pode até nos levar ao
paraíso onde os jardins são eterna poesia. Nunca se sabe nada ao certo, mas
também não há porquê duvidar.
Matéria
Publicada na Revista Vitrini – Tietê/SP – Julho de 2013
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